O meu velho amigo e companheiro Manuel Marrafa com quem partilhei a vida em muitas vertentes, que nos alimentaram esperanças e alegrias pensando num amanhã melhor mas que também nos trouxeram algumas desilusões e amargos de boca, enfim viver...
Disse-me algumas vezes insistindo: "tens de ir a Campo Maior, à minha terra natal, ver as festas do Povo! Gostas de fotografar e o que conheço de ti vais ficar emocionado ao veres e viveres aquela manifestação popular!"
Dei desconto à ligação que o agarrava às raízes pois pensava haver algum exagero admissível por respeito e amor às origens.
Em 2013 resolvi fazer o registo fotográfico das Festas do Povo de Campo Maior.
E fiz!
Voltei em 2015 e revi de uma forma mais serena, esta manifestação do povo de Campo Maior.
Mas voltando a 2013, cheguei na véspera da inauguração, ao cair da tarde.Os primeiros passos eram dados, mastros que eram erguidos a partir do chão e eram ligados entre si para surgirem arcos ao longo das ruas, servindo de suporte à decoração.
Até às quatro da manhã, hora em que fui descansar, as pessoas saíam de casa, de armazéns, de garagens, toda uma imensidão de utensílios, flores, frutos que começavam a dar beleza e forma.
Traziam aos nossos sentidos toda a imaginação, o projecto e a execução que cada grupo tinha criado para determinada zona da sua amada terra.
Projecto guardado em segredo que só se ía revelando no decorrer da noite.
Ao viver e ao registar fotograficamente este labor, fui tocado por tudo o que o Marrafa me tinha dito e não contive as lágrimas ao pensar em tudo o que estava a viver e a registar. Durante longos meses os Campomaiorenses arranjam tempo, como a formiga num trabalho empenhado, para transformar a sua terra, ao decorá-la com papel, beleza, carinho e AMOR.
O resultado abalou-me emocionalmente e estas fotos que vos deixo, são a minha forma de homenagear o empenho e o sentir dessa gente.
No decorrer desses meses, houve familiares que perderam o posto de trabalho, perda de familiares, acidentes que impossibilitaram as suas actividades normais, todo um sem número de percalços que fazem parte da vida de todos nós.
Mas sempre arranjam tempo para "fazer nascer as flores quando o povo quer".
Se esta força e determinação existisse em todos nós, seria difícil manipularem-nos! Mas isso são "contas de outro Rosário"...
Neste tempo em que escrevo estas palavras sei da morte de um Campomaiorense de eleição que muito fez pela terra. Deixa um grande legado sempre associado a sua grande humanidade, Rui Nabeiro.
Com estas palavras e estas fotos homenageio o ser humano que nos deixou.
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